Xarope Root Beer em garrafa vintage, símbolo de uma tradição que atravessou séculos e continentes.
Antes que você corra para a sua loja de produtos gourmet (uma palavra que hoje significa apenas “caro”) em busca de extratos raros, aqui está a essência do que um dia foi a root beer. Uma alquimia de raízes e açúcar que, sejamos honestos, você provavelmente não fará. Mas é preciso respeitar os clássicos, mesmo que um deles possa ter sido levemente carcinogênico.
Ingredientes:
Modo de Preparo (O Ritual Arcano):
A root beer não nasceu em uma fábrica. Nasceu da terra, uma bebida fermentada que os povos indígenas das Américas faziam muito antes de os colonizadores chegarem com suas bíblias e sua varíola. Era um tônico, um chá de raízes (principalmente de sassafrás e bétula) valorizado por suas supostas propriedades medicinais. Era, em essência, o LaCroix do século 18, só que com mais alma e menos pretensão.
Avançamos para a era da industrialização e conhecemos Charles E. Hires, um farmacêutico quaker da Filadélfia com um tino comercial digno de um barão do petróleo. Em 1876, ele pegou essa tradição popular, refinou a receita e a apresentou ao mundo na Exposição Universal da Filadélfia. Ele queria chamá-la de “chá de raiz” (“root tea”), mas seu amigo—um gênio do marketing anônimo—sugeriu “cerveja de raiz” (“root beer”) para apelar à sede da classe trabalhadora, os mineiros de carvão da Pensilvânia. E assim, uma lenda com um nome levemente enganoso foi forjada.
Fato Divertido (ou, a reviravolta cancerígena): O ingrediente chave, a alma da root beer, era o óleo da casca da raiz de sassafrás. Acontece que o principal componente desse óleo, o safrol, foi banido pela FDA (a Anvisa dos EUA) em 1960 após estudos mostrarem que ele poderia causar câncer em ratos de laboratório. E assim, a indústria da root beer teve que se reinventar, usando extratos artificiais ou extratos de sassafrás com o safrol removido. Sua root beer moderna é, portanto, uma versão segura, mas fantasmagórica, de seu ancestral selvagem.
Se você cresceu nos Estados Unidos (ou teve uma dieta midiática estritamente americana), a root beer é o sabor da nostalgia. É tão intrinsecamente americana quanto a torta de maçã e a ansiedade existencial sobre o sistema de saúde.
No entanto, para o paladar não iniciado, especialmente o brasileiro, a experiência pode ser… desconcertante. A presença dominante da Gualtéria Americana (wintergreen) evoca imediatamente o sabor de produtos de higiene bucal ou géis para dor muscular. A frase “tem gosto de pasta de dente” não é uma crítica, é um diagnóstico sensorial preciso para muitos. É uma bebida que te obriga a confrontar a arbitrariedade do paladar, um lembrete de que “delicioso” é um conceito construído culturalmente.
Hoje, ela vive um renascimento irônico. Marcas artesanais produzem versões complexas com cardamomo, anis e outras especiarias, vendidas em garrafas de vidro por preços que fariam Charles Hires corar. E, claro, temos a “hard root beer”, a versão alcoólica que finalmente cumpre a promessa etílica de seu nome, fechando o círculo de uma forma que é, ao mesmo tempo, profundamente americana e um pouco triste. É a nostalgia transformada em produto, de novo.
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