Um brinde ao oculto: a mistura perfeita entre o místico e o etéreo.
Imagine acender uma vela preta, abrir o grimório de receitas e em vez de encontrar latim macabro, dar de cara com uma lista de ingredientes: tequila, suco de limão e um toque de cassis. É isso: coquetelaria também tem seu pacto com o tinhoso.
Entre goles batizados de “Diabo”, “Inferno” e “Lucifer’s Delight”, existe um fio condutor que une o ocultismo, o marketing e a vontade humana de transformar o copo em ritual.
Não é novidade que beber sempre teve algo de mágico. Os gregos chamavam o vinho de “néctar dos deuses”; na Idade Média, monges fabricavam licores como se fossem poções; e nas encruzilhadas do Brasil, a cachaça já serviu de oferenda a entidades.
Então, quando bartenders modernos inventam um Devil’s Margarita ou um Satan’s Whiskers, não é blasfêmia: é continuidade. O balcão é altar, o shaker é caldeirão, e o bartender… quase um sacerdote.
Tequila na base, vinho tinto flutuando por cima. O resultado? Um contraste sombrio que parece sangue em camadas — gótico até a medula, como uma prima dark da Margarita clássica. O truque do vinho lembra o New York Sour, mas aqui o pacto é com a tequila: cítrico e doce embaixo, tânico e seco em cima. Visual teatral, sabor de ritual.
(Quer brincar com camadas sem invocar espíritos? Veja nosso guia sobre como criar drinks em camadas perfeitas.)
Clássico da década de 1930, o Satan’s Whiskers nasceu no Savoy Hotel, em Londres, aquele mesmo berço de monstros etílicos imortais como o Corpse Reviver e o White Lady. O nome diabólico não é à toa: na época, bartenders adoravam batizar criações com títulos provocativos, e nada era mais chamativo que invocar o próprio capiroto em um cardápio.
O drink combina gin, vermute seco e doce, licor de laranja e bitters, e existia em duas versões — “straight” e “curled” — dependendo se o licor usado era seco ou doce. Essa dualidade só reforça o ar de tentação: como se o diabo estivesse sempre pronto para aparecer com mais de uma cara.
O Satan’s Whiskers é um daqueles coquetéis vintage que não só sobreviveram ao tempo como ainda provam que o diabo veste mesmo é terno de alfaiate. Elegante, equilibrado e ligeiramente cítrico, ele virou uma espécie de piscadela histórica para bartenders que curtem drinks com nome de escândalo, mas alma de clássico refinado.
Tomate, vodca e sal — combinação tão polêmica quanto invocar Cthulhu na sala de estar. Clássico de brunch e ressaca, o Bloody Mary carrega uma aura de lenda: já foi acusado de cura milagrosa, de blasfêmia alcoólica e até de ter sido inspirado em rainhas sangrentas da história. Não à toa, virou o drink mais controverso do bar, amado e odiado na mesma proporção. Já contamos a história completa dessa rainha das controvérsias.
Ingredientes
Preparo:
Monte na taça de vinho com gelo e finalize com a laranja chamuscada. Resultado: um aperitivo com carinha de ritual de meia-noite, mas que desce suave como conversa de boteco.
Bartenders sabem: um nome provocador vende. O mesmo drink que poderia se chamar “Mexicana Vermelha” ganha muito mais palco quando vira Devil’s Margarita.
No fim, é só isso: o imaginário satânico no copo não é invocação real, mas performance cultural. E funciona: cada gole vira um teatrinho entre sagrado e profano.
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