Gengibirra, Ginger Ale e Ginger Beer
São diversas as bebidas de gengibre

Então você está aqui porque ouviu falar que gengibirra, ginger ale e ginger beer são a mesma coisa, certo? Bem, deixa eu te mostrar o quão enganado você está.
Apesar de terem nomes parecidos e um ingrediente principal em comum, essas bebidas têm histórias, processos de fabricação e até sabores completamente diferentes.
Em resumo, se você achava que estava tudo no mesmo saco, prepare-se para uma aula de diferenciação!
Ginger Ale
Popular em coquetéis e bebidas mistas, oferece uma efervescência suave e um sabor mais adocicado e leve.
Origem: Irlanda e Estados Unidos
História: O ginger ale nasceu com um toque de mágica irlandesa em 1851. Diferente das ginger beers inglesas, cheias de pompa e álcool, essa bebida gaseificada preferia a sobriedade e o dióxido de carbono para fazer sua mágica. Não demorou muito para atravessar o oceano e virar estrela no Canadá. Foi lá que o farmacêutico John McLaughlin, em 1890, decidiu dar uma de alquimista e começou a criar suas próprias receitas de refrigerantes, culminando na invenção do McLaughlin Belfast Style Ginger Ale. E, como um bom visionário, ele também desenvolveu um método de engarrafamento em massa que fez seu produto voar das prateleiras.
Mas John não parou por aí. Em 1904, ele deu um upgrade na fórmula e criou o Canada Dry Pale Ginger Ale, com uma cor mais clara e um sabor mais suave, patenteando essa belezura em 1907. Assim, surgiu o primeiro ginger ale moderno. Durante a Lei Seca nos Estados Unidos, o ginger ale se transformou no queridinho dos mixologistas de fundo de quintal, já que seu sabor de gengibre mascarava o gosto dos destilados clandestinos. Hoje, essa bebida continua a reinar tanto como refrigerante quanto como remédio caseiro para estômagos embrulhados e náuseas persistentes.
Ingredientes: Água carbonatada, açúcar (ou xarope de milho), gengibre (ou saborizante artificial) e, às vezes, ácido cítrico.
Processo: Não há fermentação. É um refrigerante gaseificado com sabor de gengibre.
Sabor: Suave, doce e com aquele toque de gengibre que mal faz cócegas na língua. Não espere complexidade, é como pedir um café descafeinado.
Gengibirra
Com toque brasileiro, mistura o frescor do gengibre com a doçura típica de refrigerantes artesanais.
Gengibirra no Paraná:

Essa jóia líquida, uma alquimia de gengibre e nostalgia, foi concebida por imigrantes italianos na bucólica cidade de Palmeira, nos Campos Gerais. O mastermind por trás dessa criação foi Egizio Cini, um italiano esperto que, lá nos confins do século XIX, decidiu que sua família merecia algo especial. Assim, começou a fermentar uma bebida em casa, com um toque de cerveja, mas sem a pegada alcoólica. O nome “gengibirra” é uma fusão criativa de “gengibre” e “birra” (cerveja em italiano), uma combinação que só um gênio cultural poderia imaginar.
A história da gengibirra paranaense é um conto de anarquismo, cultura e fermentação. Nasceu na Colônia Cecília, uma utopia anarquista italiana no Paraná, onde Egizio Cini preparava a bebida nos fins de semana. Em 1904, ele e sua trupe mudaram-se para São José dos Pinhais e fundaram a Cervejaria Esperança. A partir daí, a gengibirra evoluiu, ganhando um status quase mítico e tornando-se um dos pilares da Cini Bebidas. Hoje, a produção anual chega a 5 milhões de litros, mantendo um processo quase artesanal. Esse refrigerante não é apenas uma bebida; é um símbolo do Paraná, recentemente tombado como patrimônio cultural imaterial de Palmeira.
Gengibirra no Amapá:
A gengibirra do Amapá é mais do que uma bebida; é um elixir cultural. Misturando gengibre, açúcar e, frequentemente, cachaça, essa maravilha líquida é essencial nas festividades de marabaixo, a joia cultural do estado. A receita evoluiu ao longo dos anos, mas a essência permanece a mesma: fortalecer as vozes dos cantadores e dar energia aos dançadores. Servida gratuitamente nas festas, a gengibirra é tão vital quanto os tambores e as saias rodadas
Em 2019, essa preciosidade foi oficialmente reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Amapá pelo IPHAN. Antes, o gengibre fermentava por dias; hoje, é triturado e coado, adaptando-se aos tempos modernos sem perder a alma. Esse reconhecimento não só preserva a tradição, mas também impulsiona a economia local, com a bebida ganhando espaço no mercado e levando um pedaço da cultura amapaense para além das fronteiras do estado.
Ingredientes: No Amapá, é feita com gengibre, açúcar e cachaça. No Paraná, a receita inclui gengibre, açúcar e passa por um processo de fermentação semelhante ao da cerveja, embora não seja alcoólica.
Processo: A versão do Amapá pode ser feita com ou sem álcool e é preparada com gengibre triturado, coado e adoçado. No Paraná, o processo é mais longo, respeitando a sazonalidade do gengibre e a fermentação para preservar o gengirol.
Sabor: A gengibirra do Amapá é doce e pode ter um toque alcoólico leve, enquanto a versão do Paraná é levemente fermentada, refrescante e com um sabor complexo de gengibre.
Ginger Beer
O verdadeiro rebelde dessa turma, tem um processo de fermentação que dá uma pegada mais forte e robusta, quase como se fosse o primo mais velho e mal-encarado dos outros dois.
Origem: Reino Unido
História: A ginger beer surgiu na Inglaterra do século XVIII como uma verdadeira revolução líquida. Imagina só, marinheiros britânicos em busca de uma alternativa ao rum encontraram consolo numa mistura mágica de gengibre, açúcar e água, fermentada até atingir aquele toque etílico. Foi amor à primeira fermentação. A popularidade da ginger beer explodiu e, no século XIX, com a chegada da pasteurização e carbonatação, versões não alcoólicas começaram a pipocar.

E aqui está o pulo do gato: a ginger beer não é o mesmo que ginger ale. Enquanto a ginger beer tem aquele sabor forte e picante, fruto de um processo de fermentação que dá à bebida um caráter robusto, o ginger ale é mais suave, docinho e geralmente carbonatado sem fermentação. É como comparar uma tempestade no mar com uma brisa de verão.
Hoje, a ginger beer continua a conquistar paladares mundo afora, seja na sua versão alcoólica original ou na versão moderninha e não alcoólica, sempre trazendo aquele punch de sabor que faz a gente querer mais um gole.
Ingredientes: Gengibre, açúcar, água e levedura. Tradicionalmente fermentada, com direito a um pouco de álcool, só para animar a festa.
Processo: Fermentada tradicionalmente, a ginger beer tem um sabor mais complexo e picante.
Sabor: Forte, picante e com uma personalidade robusta. É a Beyoncé das bebidas de gengibre, enquanto as outras são só backing vocals.
Principais diferenças entre as Bebidas Fermentadas de Gengibre
- Fermentação: Ginger beer é fermentada e pode ser alcoólica; gengibirra é levemente fermentada e pode ou não conter álcool; ginger ale é apenas água gaseificada com sabor de gengibre.
- Sabor: Ginger beer é picante e cheia de atitude; gengibirra é doce e pode ter um toque de limão ou cachaça; ginger ale é suave e basicamente doce.
- Ingredientes: Ginger beer usa gengibre fresco e levedura; gengibirra do Amapá usa gengibre, açúcar e cachaça, e a do Paraná, gengibre e açúcar; ginger ale muitas vezes fica com saborizante artificial de gengibre.

Então, você percebeu que seu refrigerante de gengibre não é tão simples quanto parece? Bem-vindo ao clube. Agora você já sabe que enquanto a gengibirra do Amapá, a gengibirra do Paraná, a ginger ale irlandesa e a ginger beer inglesa compartilham o mesmo protagonista, suas histórias são bem diferentes.